segunda-feira, 22 de junho de 2009

Paráfrase 'pra' lá de boa

O filme conta a história de três personagens anticapitalistas. A história começa com dois amigos que fundam o movimento “The Edukators”, cuja finalidade é educar os burgueses de uma forma peculiar.
Os dois rapazes invadem as mansões, tiram os móveis e objetos do lugar e deixam uma mensagem de protesto, como: “vocês têm dinheiro demais.” O intuito não é roubar, nem muito menos machucar alguém, é realmente causar um choque, um impacto e, quem sabe, trazer alguma reflexão àqueles que possuem bens em excesso.
A entrada da terceira personagem nesse movimento se dá quando ela resolve invadir a casa de um empresário, o qual espera o pagamento de uma dívida de 100 mil euros acarretada através de uma batida de carro entre os dois. Durante a invasão, um celular é esquecido e os jovens retornam no dia seguinte para recuperá-lo. O empresário os surpreende, não deixando outra saída para eles a não ser o sequestro para que não fossem denunciados.
A partir do momento em que os quatro personagens estão refugiados em uma cabana, trava-se uma longa discussão que deixa clara a luta de classes. São mostradas questões como o tempo de trabalho e o consequente salário do proletário que não se equipara ao de um burguês, as oportunidades que nem todos têm de ascender e ter uma vida digna, o motivo de se acumular coisas grandes e caras, em suma, a desigualdade gritante que há entre proletários e burgueses. É importante ressaltar que o líder dos três afirmou que não se vive em uma democracia, mas sim em uma ditadura do capital. Nada mais coerente, já que é o dinheiro quem dita as regras de como o mundo deve funcionar.
Eles encaram a mídia como um meio de alienação por apresentar programas que não mostram a realidade, deixando muitas pessoas absortas durante horas em frente à televisão.
A trama acaba com os três indo para uma outra cidade para desativar todas as estações de TV do local.
Essa revolução proposta, de certa forma, é “pacífica” em relação ao que se vê no Manifesto Comunista.

No Manifesto Comunista o proletariado é visto como a única classe verdadeiramente revolucionária. De fato, seu movimento representa a maioria em benefício de todos. E para acabar com a burguesia a luta deve ser em primeiro momento uma luta nacional, ou seja, o proletariado de cada país deve derrubar a sua própria burguesia.
Nesse contexto, os comunistas são os mais ativos em questão de revolução dentro do movimento proletário. Compreendem todos os interesses e ideais e resumem sua teoria na supressão da propriedade privada.
De acordo com Marx, o primeiro passo para a revolução é a conquista da democracia pelo trabalhador. Esse, juntamente com seu predomínio político, retirará todo o capital da burguesia e o concentrará nas mãos do Estado.
Para que isso ocorra o proletariado deverá ascender de classe. Mas como a proposta é exatamente acabar com as classes, ele acabará por destruí-la depois. Após o desaparecimento das classes, surgirá a concentração do poder nas mãos de cada cidadão. Constituindo assim uma sociedade pautada no livre desenvolvimento de todos.
A revolução proposta por Marx é mais inflamada, já que essa irá extinguir as relações de produção antigas e dar origem a novas relações, pensamentos e ações.
A grande diferença entre “Edukators” e o Manifesto Comunista está na forma em como eles agem. O próprio nome já diz, os jovens não querem exaurir o sistema da forma proposta por Karl Marx com a tomada do poder pelos proletários, mas sim educar a sociedade aos poucos. É possível?
O filme nos apresenta uma visão política que é capaz de nos fazer parar para refletir mais sobre a sociedade na qual vivemos. O momento em que é mostrado que grande parte dos calçados que usamos é fabricado por crianças, me remeteu a uma das medidas propostas no Manifesto Comunista que poderiam ser utilizadas para acabar com o sistema capitalista. Tal medida é: “10. Educação pública e gratuita para todas as crianças. Supressão do trabalho fabril de crianças, tal como praticado hoje. Integração da educação com a produção material, etc.”
É difícil deixar de lado pensamentos e atitudes que foram impostas a você desde o berço. Como disse Marx, a realidade econômica determina a consciência. Então como seria viável realizar uma revolução no século XXI com o capitalismo entranhado em quase todo o lugar que se vá? A verdade é que não é possível realizar literalmente, em grande escala. O que os jovens de hoje em dia podem fazer e muitos fazem está exatamente explicitado em “Edukators”, ou seja, educar as pessoas. Melhor dizendo, nesse caso, reeducá-las. Mostrar, como no filme, de onde vem e quem é responsável pela fabricação de cada produto, o que está por trás de cada coisa, ter um olhar além do que se vê. Realizar palestras, como a que foi ministrada na última sexta-feira na FACHA, falando sobre as dificuldades que os moradores enfrentam com os 788 degraus que “cortam” a comunidade.
Envolver-se em trabalhos voluntários, participar de ONGS, fazer doações. Enfim, qualquer atividade que vise à integração da sociedade como um todo. Essa ação é o reconhecimento de que não é só você quem está nesse mundo, há uma realidade lá fora que a maioria desconhece.
O que a geração de hoje em dia faz é um pouco diferente das atitudes do “The Edukators” e do que o Manifesto Comunista prega. Ela, em meio ao sistema, busca formas de se sobressair a ele e ajudar aqueles que precisam através da motivação, do conhecimento e, em sua grande parte, da vivência.
O primeiro passo para que talvez mais tarde essas ações possam tomar conta de todo o globo é a mudança de mentalidade através do conhecimento.
Livremos-nos das amarras da ignorância e do egoísmo que a sociedade capitalista impõe.

2 comentários:

  1. Essa foi a resenha do Gabriel? Ficou o máximo, você realmente escreve muito bem. ^^
    Adorei esse filme e o livro também, très chic, o que é a sociologia, né? Além de abrir mentes nos faz buscar por mais conhecimentos e "nos livrarmos das amarras da ignorância e do egísmo".
    beijos

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  2. É... e eu só coloquei aqui porque Gabriel escreveu "Bom texto".
    Caramba, um "bom texto" vindo de Gabriel Gutierrez não é pra qualquer um!
    Nem adorei, né?! (:

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