domingo, 24 de maio de 2009

Uma visão ousada e sarcástica

AMOR OU POLÍTICA: SÓ AMAMOS O QUE NÃO DÁ CERTO

Fritz Utzeri

Vocês já repararam que os grandes casos de amor são os que não dão certo? Não estou dizendo que o amor não dá certo. "Casaram e viveram felizes para sempre", que encerra os contos de fada, ainda é considerado um modelo. Mas então por que na vida adulta só nos lembramos e nos emocionamos justamente com o que não funciona segundo esse modelo? Qual é a história de amor mais popular de todos os tempos? Aposto que a maioria vai dizer Romeu e Julieta. Pois é, esses dois adolescentes, frutos de famílias inimigas, amam-se com a mesma intensidade com que suas famílias se detestam. Fazem de tudo para "casar e viver felizes para sempre", o que inclui dar ouvidos a um padre idiota e acabar se suicidando, num dos maiores mal-entendidos da literatura.
Agora imaginem se o padre fosse mais esperto, os jovens menos afoitos e ninguém tivesse tido a ideia de introduzir veneno no texto. Depois de muito namoro escondido, ambos fugiriam e se casariam bem longe de Verona. Como naquela época deserdava-se filho, iam comer o pão que o diabo amassou. Já imaginaram Julieta costurando para fora e Romeu trabalhando como segurança num banco dos Médicis, em Florença?
Romeu chega tarde em casa e encontra Julieta, que mal dá conta de cuidar dos sete (ou oito) filhos e ainda tem que preparar a pasta (massa) para o adorável marido, que faz questão de juntar ao macarrão do dia-a-dia uma novidade recém-chegada da América: o pomodoro (pomo de ouro, como até hoje os italianos chamam o tomate). Já pensaram na Julieta lavando roupa na beira do Rio Arno e aguentando o mau humor de Romeu, que deu para beber...
Vamos da literatura para a ópera. O que será que teria acontecido com Don José se tivesse se casado com a suave Micaela, a moça do xale azul? Provavelmente chegaria ao posto de comandante dos gendarmes que policiavam Sevilha. Carmen uma verdadeira "chave de cadeia", teria acabado em cana, mas quis o destino que a cigana atirasse uma rosa e enfeitiçasse o nosso "brigadier".
Aí tudo passou a desandar, mas - ao mesmo tempo - a ficar interessante. Amor selvagem, sexo idem, deserção, traição, contrabando, degradação, ciúmes, o tema musical da morte e Escamilho... Desprezo e... Tchaaaan! O clímax... Uma lâmina que brilha... Sangue: "Podem me prender, fui eu que a matei, ó minha Carmen adorada!", clama Don José, ante o corpo sem vida da cigana. Não é à toa que Carmen é a mais popular (novamente) e uma das mais belas trilhas operísticas já compostas.
Por que falo nisso? A verdade é que a normalidade, seja no amor, seja no que mais for, não é notícia em jornal. Gostamos do que é fora do comum. Vocês acham que a política sueca é interessante? Lá ninguém rouba (ou se rouba, o faz com prudência e moderação), as coisas funcionam, é um tédio. Entre nós é o contrário. É igual às histórias de amor que não dão certo: rouba-se sem pudor e ainda se escarnece da plateia. E não somos sequer originais. Tente se lembrar de um imperador romano que excite a imaginação. Aposto que a maioria vai dizer: "Nero!". E por quê? Porque tacou fogo em Roma, ora essa!

PS - Se não fez muito sentido para você, paciência, para mim deixou de fazer há muito.

Genial o texto, não?!
Eu ri muito quando o li. Sarcástico, irônico e extremamente engraçado. Além de nos presentear com uma fácil leitura.

2 comentários:

  1. Putz, muito bom o texto Bruna, ri que nem uma criança =)
    Genial mesmo, ele tem toda a razão.
    beijos

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  2. Olá, nossa realmente não parei pra pensar no caso que o texto nos fala. Excelente argumentação do autor, é geniaaal rs... até +.
    bjos :)

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