quinta-feira, 30 de abril de 2009

Ser Jornalista, a primeira parte

Eu recebi, no início do ano, um trabalho de Formação da Cultura Brasileira. Não irei me aprofundar tanto, mas uma das missões era realizar uma entrevista com um personagem de uma escola de samba. Depois de tantas idas e vindas, acabei escolhendo, por intermédio de uma amiga, o Intérprete do Império da Tijuca, Pixulé.
Com ajudas externas consegui o celular dele. Liguei e marquei a entrevista em um dia de comemoração. Feriado de São Jorge.
Com direito à feijoada e muito samba, eu e minha amiga (a mesma que me "apresentou" o Intérprete) fomos recebidas de braços abertos.
Tudo ocorreu maravilhosamente bem.
Posso dizer que este primeiro de muitos trabalhos que virão, colocaram à prova a minha capacidade de pesquisar e correr atrás do que foi pedido para a concretização de uma tarefa que, na minha opinião, é complicada para os iniciantes.
Há muito o que aprimorar, mas para quem está começando eu posso até dizer que não me saí tão mal assim.
Segue a entrevista.

Você foi contratado em 2009 pelo Império da Tijuca. Em questões de relacionamento e profissionalismo, você está se dando bem na escola?
Pixulé: Eu só vou responder com uma coisa. Se melhorar estraga.

Como é que tudo começou? Por que Pixulé?
Pixulé: Bom, Pixulé começou mais ou menos há trinta anos quando eu comecei a cantar samba-enredo. E eu sou Intérprete de samba-enredo há 31 anos e há 30 anos atrás eu falava muito em Pixulé, e Pixulé na gíria é “dinheiro.” E então isso ficou até hoje. E no mundo do samba há cerca de uns 15 anos atrás ou 16 anos era “Neguinho Pixulé”. Aí de 94 pra cá onde eu peguei o microfone oficial pela primeira vez, aí passou a ser Pixulé, só Pixulé. E isso tá aí até hoje. Graças a Deus.
E as pessoas te chamam de Pixulé?
Pixulé: Até hoje todos me chamam de Pixulé.

Não te chamam de Roosevelt?
Pixulé: (risadas) Não, não me chamam de Roosevelt. Me chamam de Pixulé mesmo.

E você compôs duas músicas. “Allá-la-ô, um carnaval das Árabias e ”E Foram Felizes Para Sempre... A Química Perfeita das Duplas”...
Pixulé: Olha, não foram só essas. Eu também compus dois sambas-enredo no carnaval de 99 e carnaval de 2000 na escola de samba Inocentes de Belford Roxo. Os dois sambas foram meus. Inclusive em 2000, foi a primeira escola que eu tive o prazer de ganhar o prêmio de melhor Intérprete de samba-enredo na Sapucaí. Foi essa escola aí. A primeira vez que eu ganhei o prêmio de melhor Intérprete foi lá, com o meu samba, homenageando Petrópolis.

Você preferiu seguir a carreira de Intérprete e não de Compositor. Ou você concilia os dois?
Pixulé: Não, até dá pra conciliar intérprete e compositor. Mas com o intérprete você tem mais notoriedade. O compositor não aparece muito, entendeu? Você canta um samba-enredo, “ih, o Pixulé. O samba-enredo do Pixulé.” Não, o samba-enredo não é do Pixulé é do compositor “quem?”, “qual?”, entendeu? E eu optei... ‘Apesar que’ eu também canto na noite, eu sou cantor da noite. Eu sou o único Intérprete de samba-enredo que é cantor da noite, entendeu? Que é cantor de baile e baile de 3ª idade. Ainda tem isso. Cantando italiano, francês, espanhol, inglês...

Canta tudo?
Pixulé: Canta tudo. É de canto de macumba a hino de igreja. É o que agrada a gregos e troianos. (risadas)

E que tipo de música você gosta? Tirando o samba-enredo...
Pixulé: É, tirando o samba-enredo eu gosto muito de rumba, merengue e salsa. Eu adoro salsa. Adoro dançar salsa e adoro dançar rumba.

Além de Intérprete é dançarino?
Pixulé: É, eu gosto. É o tipo de música que eu gosto. É o tipo de música que ninguém gosta mas eu adoro salsa e rumba. Se você chegar numa determinada festa, o samba tá rolando e de repente coloca uma salsa, ninguém fica parado, todo mundo dança. E na banda que eu canto, que eu trabalho durante o ano, eu canto salsa, rumba e merengue lá. Muito legal isso.
E com os cantores de apoio, você se dá bem com eles? Como é a relação?
Pixulé: É uma família. Eu acho que se você chamar uma pessoa pra trabalhar com você, você tem que confiar nela, entendeu? Se você tá fazendo Jornalismo e tem uma colega trabalhando com você, vocês duas ‘é’ uma dupla. Você tem que confiar nela e ela tem que confiar em você. Ou seja, isso se torna um vínculo, uma família. Então o meu carro de som é uma família. Eu confio plenamente em todos eles, sem tirar nem pôr.

E com a bateria, você demora um tempo para compor o ritmo do samba-enredo?Pixulé: Não, não, não. É um casamento. Olha, eu costumo falar que sou um cara feliz, que sou um cara de bem com a vida. Nada me aborrece, nada me estressa. Sou um cara tranqüilo, graças a Deus. São 44 anos, faço 45 agora em agosto, mas de pura felicidade. É de pura habilidade, muita habilidade. (risadas)

Você tem algum ritual antes de entrar para apresentar o samba da escola?
Pixulé: Não. Você sabe que muita gente faz gargarejo. Outros bebem conhaque, alguma coisa assim. Isso aí é fetiche, nada a ver. A arma do cantor é ele dormir. Todo cantor, ele tem que dormir, bebe sua aguinha, falar pouco e se alimentar bem. Ou seja, tudo que faz bem pro seu corpo, faz bem pra sua voz, faz bem pra sua garganta. Se alimentou bem, almoçou bem, dormiu bem? Você almoça bem, tira uma bela de uma tarde de sono. Após essa bela tarde de sono, a sua voz tá limpinha, limpinha, limpinha. Dizem que sexo também é bom à beça. (risadas) .

Então você não segue aquela linhagem de tomar mel, comer tal fruta... ?
Pixulé: Não, não, não, nada disso. Eu durmo bem, me alimento bem e como bem, hein? Sou bom de prato.

Esse é o segredo então, a chave?
Pixulé: Não tem mistério. De vez em quando uma maçãzinha que é bom, entendeu? E bebo água. Agora fora do trabalho uma cervejinha e meu whiskey é de lei. (risadas)

E em casa, você canta?
Pixulé: Olha, em casa eu canto à beça. Eu gosto de cantar. E canto bastante. Eu já falei, eu sou um cara feliz, sou um cara de bem com a vida. E muito bem a com vida mesmo. Alguma coisa até estressa a gente, mas eu olho assim. Tá doido me estressar por isso? Eu hein?! Vai vendo. (risadas)

Quando você canta o samba, você tem noção de quantas vezes você repete?
Pixulé: Não, não. Eu tenho noção de quantas vezes eu vou cantar antes de entrar a bateria. Uma ou duas sem bateria. Depois que entrou a bateria, minha filha, eu não sei. Aí eu não sei o que rola. (risadas)

E dá um frio na barriga antes?
Pixulé: Não, não. Eu geralmente quando chego na Sapucaí eu entro com o pé no chão. Até porque na Sapucaí eu não vou cantar pra mim, eu vou cantar ‘prum’ certo público, entendeu? Então eu vou entrar na Sapucaí sabendo que eu vou cantar para o público. E geralmente quando eu faço baile eu vejo que a casa tá vazia, pra mim, é como se a casa estivesse cheia. É a mesma coisa. Se tiver uma pessoa na plateia e eu com o meu palco, com a minha banda eu vou cantar praquela pessoa como se fossem mil pessoas. É a mesma coisa, ou seja, eu sou um profissional da noite, eu sou um profissional do palco. Não sou cantor. Então eu tenho que mostrar que eu sou profissional. Tanto faz se é pra uma pessoa, se é pra mil ou pra dez mil, entendeu? Então pra mim não tem diferença nenhuma. Não tem friozinho na barriga. Antes, no início, até tinha. A primeira vez que eu pisei na Sapucaí como cantor de uma escola de samba, aquele frio, aquele certo nervosismo bateu. Mas depois, durante... aquele negócio, como diz a lenda: no início, na primeira vez dói um pouquinho. Depois acostuma, não é isso? (risadas) Na Sapucaí é a mesma coisa, na primeira vez dá um friozinho e depois relaxa. No ano seguinte um friozinho de novo. No terceiro ano já tá acostumadinho. Mas depois, agora é “relax.” A Sapucaí agora é quintal da minha casa. E o palco hoje também é quintal da minha casa, então já tô acostumado. Não tem nervosismo mais, acabou essa história.

E depois que você cantou, qual é a sua expectativa?
Pixulé: Olha, quando eu acabo de cantar eu penso logo em beber minha cervejinha. Depois eu penso em expectativa. Acabo de cantar eu vejo um barzinho, eu vejo uma barraquinha e já vou logo beber uma cervejinha. Amanhã eu vou pensar: Caramba, ontem foi legal. Vamos ver os comentários do povo? Mas depois que eu acabo de cantar não fico com essa paranoia não. Fico não. (risadas)
Então é isso, muitíssima obrigada. Você é simpaticíssimo...
Pixulé: Não, e eu sou isso aqui. Na rua, em casa, com os amigos, com a minha família eu sou isso aqui. Eu sou o Pixulé. Eu sou o cara. (risadas)

Não tinha maneira melhor de terminar a entrevista, não é?! Ele fechou para mim com chave de ouro.
Eu simplesmente adorei realizá-la. O clima de discontração predominou durante todo o tempo.
Foi realmente uma delícia!

Nenhum comentário:

Postar um comentário